terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Resenhando - "Songs from the Big Chair" 30 anos

"Grite! Grite! Deixe tudo sair!" e conquiste o mundo.


Roland Orzabal (E) e Curt Smith.
É muito comum vermos músicas do tipo que dizem para nós dizermos o que pensamos. Geralmente estas mesmas canções que dizem que nós devemos expor nossos sentimentos, convocam apenas expressões de sentimentos positivos. Nem sempre os sentimentos positivos são os que devem ser expostos pois deixamos o que mais precisa ser liberado mais enterrado. Entre eventos ruins, tristezas e desabafos não feitos, muita coisa é acumulada no nosso interior.


Exatamente por explorar esses pontos de forma muito inteligente, aliado a uma qualidade sonora peculiar, sobressaiu-se, entre as centenas de bandas de pop rock criadas nos anos 80, o Tears for Fears.


A banda


O Tears for Fears foi criado em 1981 na Inglaterra por Roland Orzabal e Curt Smith. A dupla ainda contava com Manny Elias e Ian Stanley na bateria e teclados, respectivamente. Orzabal e Smith participaram juntos de outra banda, chamada Graduate, que fez um modesto sucesso, colocando um single entre o top 10 da Inglaterra.

Em 1983, a banda lançou seu primeiro álbum, "The Hurting", cujas letras mostravam o que a banda propunha: Letras profundas, baseadas na técnica psicanalítica de "terapia primal", em que o paciente é levado a expressar seus sentimentos mais básicos, trazidos da infância. O disco fez sucesso dentro da Grã-Bretanha, chegando ao primeiro lugar das paradas do país. Algumas músicas ainda são lembradas, como "Mad World", várias vezes regravada.


'Songs from the Big Chair'


Em 24 de fevereiro 1985, ainda inspirados pela teoria do grito primal, porém com outros elementos adicionados, foi lançado o album "Songs from The Big Chair". O nome do álbum, Curt Smith explicou sua origem:





"O título foi minha ideia. É um tanto perversa, mas você tem que entender nosso senso de humor. A ideia da 'Big Chair' é de um filme brilhante, chamado Sybil, sobre uma garota com 16 personalidades distintas. Ela fora inacreditavelmente torturada pela sua mãe quando criança e o único lugar que ela se sentia segura, o único momento em que ela poderia ser ela mesma era quando ela se sentava na poltrona de sua analista. Ela sentia-se segura, confortável e não usava suas diferentes facetas para se defender. É um tipo de 'vai se ferrar' para a imprensa musical inglesa, que realmente acabou conosco durante um certo tempo. Isso é o que nós somos agora, e não podem mais vir atrás de nós". -Curt Smith.

Principais faixas:

1. Shout

Capa do single de Shout (1984)
A música mais famosa da dupla, o maior single de 1985 e um dos grandes símbolos dessa estranha década de 1980, Shout é uma música de batida rígida e refrão repetitivo. Longe de isso ser um problema, afinal a canção se firmou no primeiro lugar das paradas em vários países. Roland Orzabal diz que, apesar de a canção ter uma letra que remeta ao Grito Primal, ela fala da vontade de protestar que estava presa por conta da repressão da Guerra Fria:


"Muita gente pensa que "Shout" é mais uma música sobre a teoria do Grito Primal, dando sequência à temática do primeiro álbum. Na verdade, ela é mais voltada para o protesto político. Ela surgiu em 1984, quando muitas pessoas ainda preocupavam-se com o resultado da Guerra Fria e, basicamente era um incentivo ao protesto." - Roland Orzabal.


Smith  foi além, e também falou que Shout é uma música de protesto, mas não somente sobre a Guerra Fria, e sim, sobre a falta de reflexão sobre as ações pessoais dentro da sociedade:
"Trata-se de protestar, de forma que encoraja as pessoas a não fazer coisas sem realmente questioná-las. As pessoas agem sem pensar porque é assim que as coisas vão na sociedade. Então, é uma música genérica, sobre a maneira que as pessoas aceitam qualquer aflição que lhes atinja." - Curt Smith


É verdade que Shout não é uma canção fácil de se gostar. Por ser uma música de protesto, a letra é realmente pesada, falando de combate ao status da sociedade. Além disso, a melodia dura não permite que o caráter de protesto da letra não se perca em meio à música, mantendo-se dentro das características da banda. Mesmo assim, tornou-se uma canção aclamada pelo mundo inteiro.


2. Everybody Wants to Rule the World


Capa do Single de 'Everybody
Wants to Rule the World' (1985)
Outra música que atingiu o topo das paradas em todo o mundo, Everybody Wants to Rule the World, ao contrário de Shout, possui uma batida mais leve e alegre. A temática da letra também é uma crítica à sociedade, dominada pelo contexto da guerra fria e pelo duo Reagan-Thatcher, onde as disputas políticas pelo mundo eram acirradas e mais trouxe tormento para a maior parte do mundo do que benfícios:



"A ideia é bem séria - é sobre todo mundo querer o poder, sobre o estado de guerra e a angústia que ele causa." - Curt Smith

Orzabal destaca que essa música não entraria neste álbum, dado a diferença da música em relação ás outras faixas, mas a música foi uma forma de transição para a inserção de melodias mais alegres ao acervo da banda:

"Ela [a canção] foi gravada em duas semanas e foi a última música a ser adicionada no álbum. A batida era alheia à nossa forma normal de fazer as coisas. Era alegre em vez de rígida e quadrada como em 'Shout', mas continuou o processo de tornar-se mais extrovertida." - Roland Orzabal


Opinião


O álbum é um dos grandes expoentes dos anos 80. Misturas de letras duras e críticas, melodias mistas entre leves e pesadas, o disco agrada pela inteligência. Embora seu estilo não seja comparável à maioria das bandas pop britânicas, como Duran Duran ou Wham! (inclusive, Orzabal, uma vez, se aborreceu com a imprensa pela comparação com o conjunto de George Michael), o Tears for Fears  se firmou como grande sucesso e representou muito bem seu papel, não se deixando fugir da profundidade de suas letras.

O sucesso é tão notório que as músicas descritas acima são facilmente conhecidas no mundo. Sempre que se cantar uma parte do refrão de Shout em um lugar lotado, muito provavelmente alguém cantará com você, ao menos parte do refrão. E raramente uma música perdura 30 anos e ainda é passada a gerações futuras.

Veredicto


Se uma pessoa gosta dos anos 80, esse álbum é um prato cheio. E todos deveriam ouvir pelo menos duas vezes tanta qualidade musical sintetizada em pouco mais de 40 minutos de álbum.


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