sábado, 1 de novembro de 2014

Resenhando - "Autobahn" 40 anos

A tecnologia em seus primórdios e a paixão pela música de vanguarda resultaram em um dos álbuns mais icônicos da história.

Você deve ter ouvido música eletrônica. Ou ao menos ouviu uma música fortemente mixada. Com toda a certeza do mundo você ouviu falar de David Guetta, Avicii, Swedish House Mafia ou Tiësto. Não faz mal gostar, mas muito se fala de que DJs hoje em dia têm uma facilidade muito grande em fazer a sua música e a magia de imaginar a composição destas se perde, ficando fadada a uma mesa de mixagem, alguns pendrives com batidas prontas e um computador.

Pense bem: se chegou a isso, tenha certeza que um dia foi mais complicado.

A Banda: Kraftwerk

Ralf Hütter (E) e Florian Schneider: Amigos, obcecados e perfeccionistas. Tudo que a música eletrônica precisava.

Sair perguntando na rua não vai trazer muitos frutos sobre quem são, mas pouparei-lhes deste trabalho: No fim dos anos 60, mais precisamente 1968, conhecem-se dois jovens fascinados por tecnologia e Krautrock, o "rock-chucrute" ou a música de vanguarda alemã. Os jovens se chamavam Ralf Hütter e Florian Schneider. Juntos, os dois tentavam juntar e organizar ruídos eletrônicos e transformá-los em música. Sob o nome de Organisation, lançaram o álbum Tone Float, em 1970, onde expuseram seus primeiros trabalhos. No mesmo, já sob o nome de Kraftwerk, lançaram um álbum homônimo, um pouco mais elaborado que o anterior, mas ainda mantendo a característica minimalista que levariam como marca registrada do conjunto. 
Nos 3 anos seguintes, a dupla, e depois trio, com a entrada de Wolfgang Flür na percussão eletrônica, lançou ainda os álbuns Kraftwerk 2 (1972) e Ralf & Florian (1973). Os álbuns são todos diferentes um do outro, levando a pensar que estavam realmente tateando entre os eletrônicos para encontrar onde eles encaixariam com a música que estavam criando.

1974: O "Primeiro álbum" e o sucesso

Seis anos de exaustivas tentativas, em 1.11.1974, o Kraftwerk lança o álbum Autobahn. Uma curiosa obra de 5 faixas, sendo a faixa-título tendo 22 minutos, ocupando todo o lado A do vinil. O disco conceitua-se falando (bem pouco, afinal o álbum inteiro tem 7 versos diferentes) das viagens automotivas nas Autobahns, as estradas alemãs famosas no mundo inteiro. Unindo o sintetizador Moog, percussão eletrônica, violino e flauta, o álbum deu a sensação de liberdade e um pouco da chatice de uma longa viagem de carro: o sol contra o pára-brisa, as paradas para reabastecer ou comer, a monotonia da paisagem, o som do rádio ou dos pássaros cantando ao longo da via. Parecia que alguém finalmente conseguira reuinir a música e a eletrônica de modo harmonioso.

AUTOBAHN: A chatice de uma viagem de carro é de onde parte a jornada da popularização da música eletrônica.


 As faixas mais conhecidas

1. Autobahn

Falando desse álbum, não se pode deixar de falar da primeira faixa, que leva o nome do álbum. Uma curiosa música que ocupava todo o Lado A, com uma duração de 22:43 minutos, com apenas 7 versos espalhados no meio de sons que imitam uma viagem de carro. Carros passando pelas famosas, Autobahns, as longas vias interurbanas em que boa parte é feita sem limite de velocidade, a tranquilidade e a monotonia da paisagem, o rádio ligado. Elementos que criam sensações de liberdade para quem escuta. E, pelas repetições na batida e no background da música, mexe um pouco com a sensação de monotonia que uma viagem automotiva traz.

 2. Kometenmelodie  (1 & 2)

Durante a gravação do álbum, em fevereiro de 1974, passava próximo à Terra o cometa Kohoutek e os rapazes gravaram duas faixas (uma dividida em duas, para ser mais correto) e chamaram, literalmente "Melodia do cometa" (Kometenmelodie). Essas faixas, pessoalmente, dão a sensação de esperar pelo cometa, tendo como companhia insetos da noite e outros ruídos da escuridão na primeira parte. Já na segunda parte, a música ganha ritmo e excitação, como se o aparecimento do cometa que provavelmente causara assombro durante a sua passagem.


Veredicto

O álbum tem tamanha importância que os prórpios integrantes do Kraftwerk o consideram como o primeiro álbum da banda. A primeira vez que a música eletrônica ganhou popularidade foi com este álbum. Graças ao Autobahn, o Kraftwerk fez um grande sucesso e influenciou várias bandas ao longo dos anos, como Depeche Mode e New Order, e depois abrindo todo o espaço que a eletrônica ganhou, chegando aos dias atuais, em que raramente uma música é puramente mecânica.

Realmente, uma viagem de carro levou a música a percorrer caminhos fantásticos.


quarta-feira, 4 de junho de 2014

Resenhando: "Admirável Mundo Novo"


Comecei a ler livros clássicos do século XX. Do jeito que minha vida não anda fácil (vide a quantidade de textos postados nesse blog), comecei pela tríade das distopias.

Aos leigos de plantão, distopias são histórias que imaginam um futuro incrível, com grandes avanços na tecnologia e/ou na vida social, porém com um alto preço a ser pago: em geral, o preço se traduz em restrições à liberdade de pensamento e de ações. Tudo deve ser feito em prol da ordem e da manutenção da sociedade no padrão vigente.

Nesses moldes, foi escrito em 1931, Admirável Mundo Novo, por Aldous Huxley. Este foi a primeira das três grandes obras distópicas do século XX (esta; 1984, de George Orwell; e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury). Huxley vinha de uma linhagem de intelectuais: seu avô era Thomas H. Huxley, um dos maiores cientistas britânicos do século XIX, defensor ferrennho da teoria de Darwin da evolução das espécies. A família de Huxley também conta com grandes nomes da literatura inglesa do século XIX.

Sinopse

A história se baseia em Londres, centenas de anos a frente do nosso tempo. A ordem social foi reformulada e atingiu até os níveis biológicos: as pessoas não mais nascem, são incubadas. De acordo com as necessidades da sociedade, incubam-se pessoas a diferentes níveis de desenvolvimento, para cada nível de trabalho braçal ou mental, divididos em castas, de Alfa a Ípsolon. Todos eram condicionados a não querer interagir com outras castas, e todos eram condicionados a servir ao bem-estar social.

A felicidade era uma lei. O condicionamento feito durante o início da vida, de forma hipnótica, dizia que todas as pessoas devem ser felizes. AS coisas ruins seriam eliminadas, a morte seria algo costumeiro no dia-a-dia de todos, a solidão seria ultrajante. Tudo organizado de forma que ficar sozinho fosse praticamente impossível, a diversão era sempre conjunta, e dividir a vida com outrem era um pilar importante para a felicidade. Tudo em nome da manutenção da sociedade perfeitamente estável.

As pessoas eram jovens até a morte. Através de algumas terapias (como transfusão de sangue jovem) aparencia física não decaía de modo que fosse atingida a senescência. Desde a incubação, todos são imunizados contra todas as doenças, e quando são admitidas no hospital, a morte é certa, e quando chega, os nutrientes e compostos daquele organismo morto são reaproveitados.

Já que as pessoas não nasciam, famílias não existem. A interação sexual é incentivada, mas o amor, o relacionamento prolongado era algo desencorajável. Sob o lema "Cada um pertence a todos", a promiscuidade era estimulada. Escolha, se divirta e siga em frente.

Em diversos locais, de forma isolada, existiam as chamadas "reservas históricas". Lá a vida ocorre como nas antigas épocas (semelhante aos tempos em que o livro foi escrito), as pessoas não dispõem das novidades da civilização. Nas reservas, as pessoas nasciam (o que era visto como uma verdadeira obscenidade para os novos tempos), lidam com o envelhecimento, veneram deuses, vivem em núcleos familiares, sem dispor da tecnologia dos novos tempos. Esses fatos eram motivos para que fossem chamados de "Selvagens".

Claro que, como humanos, erros ainda podem acontecer. Um homem chamado Bernard Marx, pertencente à mais alta casta (Alfa-mais), tinha, apesar do desenvovlvimento, estruturação física de alguém de uma casta menor, o que era razão para ser malvisto por seus semelhantes. Por um problema no seu processo de condicionamento hipnótico, ele não pensava como a nova ordem: ele tinha consciência de sua diferença e não sempre queria viver como todos os outros, apesar de trabalhar tal como os outros integrantes da nova sociedade.

Marx, ao  viajar e visitar uma das reservas históricas, conhece um dos selvagens: John, filho de uma mulher que outrora pertencera à civilização mas se perdeu em uma visita à reserva e estava grávida de outro homem "civilizado". Em John, Marx vê uma oportunidade para estabelecer-se socialmente, ao mostrar o novo mundo ao selvagem e trazer a atenção de todos para mostrar alguém que nasceu (!), tendo um pai (!!!) e uma mãe (!!!!!). O resto faz parte do enredo, não vou contar mais.

Opinião

Huxley aborda o desenvolvimento tecnológico, crecente no período pós-Primeira Guerra, de uma forma muito interessante. Pelo que li, o desenvolvimento chegará ao ponto de não ser mais uma ferramenta para o ser humano, mas será a única base em que a sociedade se sustentará: voce deverá trabalhar para manter a ordem, do contrário será desprezado. Assim, é instaurada uma tecnocracia totalitária.

O autor também usa os nomes de personagens históricos para representar algumas ideias. O mais notório é o próprio Bernard Marx, cujo sobrenome vem do filósofo alemão Karl H. Marx, que muito escreveu sobre a alienação das massas para assegurar a estabilidade social.

Também vejo, em algumas passagens do livro, o esforço que é feito em nome da felicidade coletiva. Em vários momentos, é confessado que escolhe-se a felicidade em detrimento ao progresso científico de acordo com a metodologia empregada (contestação de teorias, revisão de dados, etc.). Novamente a individualidade é posta de lado em prol da ordem social. Ninguém está lá para nada se não servir a sociedade.

A parte boa de ler livros com semelhante temática é que mostram um pouco o preciso que precisa-se pagar se quisermos viver em uma sociedade realmente feliz. A famosa frase "A ingnorância, às vezes é uma benção" mostra-se convenivente e muito correta. O objetivo é chegar à felicidade plena. Mais que isso é desperdício e pode ser danoso para ser feliz. Para garantir a felicidade, é preciso que o conhecimento seja cerceado e os que quiserem buscar novos conhecimentos... é bom mandar para longe das massas. A civilização não pode ter perturbações.

Veredicto

Leiam esse livro. É um olhar fantasioso de nosso destino se queremos que a tecnologia invada nossas vidas. Francamente, creio que ela já invadiu.

terça-feira, 20 de maio de 2014

All Star

Então, fiz vinte anos recentemente (Oba!, parabéns pra mim). Toda virada de década é um momento oportuno para rever até onde você chegou. A essa altura da vida, já teria aproveitado minha fase de fazer merda, me apaixonar, namorar na escola, etc. Teria feito muito para que, hoje, estivesse um pouco mais maduro e pensando com clareza em um futuro próximo e, quem sabe, num mais distante.

Perceberam que eu usei o Futuro do Pretérito? Exatamente.

É, não passei pelas tais experiências da fase de fazer merda. Talvez tenha feito algumas, mas tão dispersas e tão perdidas no mar de civilidade que regeu minha adolescência. Depois fiquei achando besteira. Enfim, isso fica muito confuso.

De volta a meu aniversário, no dia seguinte a ele, acordei com uma frase na cabeça: "Não lembro de ter tido um All-Star. Quero um". Besteira, pensei, mas aquilo cresceu no dia, com algo peculiar. Aos que não sabem, o All-Star é um modelo de tênis muito popular, conhecido por aqui por ser voltado para o público púbere, entre 12 e os 18 anos, presumo. As linhas simples e a facilidade para lavá-los vieram muito bem a calhar.

Não que eu tenha sido melhor ou pior pessoa durante minha adolescência por isso, mas não tive um. Porém, talvez pudessem servir de algum tipo de marco. Vai ver significasse algo que morreu lá atrás e eu não vi, mas falta hoje pra mim. Quem sabe ter o desejo repentino de comprar esse tenis seja só porque eu sinta falta de ter feito o que deveria anos atrás. Oportunidades perdidas? Uma nova chance para pensar com clareza o futuro de um futuro recente que preciso reformular? Não tenho ideia.

De fato, não tenho ideia nenhuma das respostas que preciso. Eu só sei que eu comprei a porra do All-Star.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Males necessários

Gosto de ti pelos teus incômodos. Te amo pelos teus problemas. Aprecio teus dias ruins. Passo o dia sonhando com as tuas complicações.

Mas não confunda, isso não é sadismo, não gosto de te ver sofrer. Tua tristeza me deixa triste, tal como tuas lágrimas. Tuas alegrias me agradam, teu sorriso me faz sorrir, a felicidade nos meus olhos somente existe se eu vê-la também nos teus olhos.

Mas todo dia espero que desfiles tuas reclamações, o que te chateia, o que te dá nos nervos, o que te ansia a regurgitar seu almoço de tanta raiva. O que te faz querer desaparecer. Por dias. Para abarecer em total renovação dos ânimos.

Quero ver toda essa tua face para que exponhas tua humanidade. Quem sabe até essa humanidade te deixe mais perto de mim.