quarta-feira, 4 de junho de 2014

Resenhando: "Admirável Mundo Novo"


Comecei a ler livros clássicos do século XX. Do jeito que minha vida não anda fácil (vide a quantidade de textos postados nesse blog), comecei pela tríade das distopias.

Aos leigos de plantão, distopias são histórias que imaginam um futuro incrível, com grandes avanços na tecnologia e/ou na vida social, porém com um alto preço a ser pago: em geral, o preço se traduz em restrições à liberdade de pensamento e de ações. Tudo deve ser feito em prol da ordem e da manutenção da sociedade no padrão vigente.

Nesses moldes, foi escrito em 1931, Admirável Mundo Novo, por Aldous Huxley. Este foi a primeira das três grandes obras distópicas do século XX (esta; 1984, de George Orwell; e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury). Huxley vinha de uma linhagem de intelectuais: seu avô era Thomas H. Huxley, um dos maiores cientistas britânicos do século XIX, defensor ferrennho da teoria de Darwin da evolução das espécies. A família de Huxley também conta com grandes nomes da literatura inglesa do século XIX.

Sinopse

A história se baseia em Londres, centenas de anos a frente do nosso tempo. A ordem social foi reformulada e atingiu até os níveis biológicos: as pessoas não mais nascem, são incubadas. De acordo com as necessidades da sociedade, incubam-se pessoas a diferentes níveis de desenvolvimento, para cada nível de trabalho braçal ou mental, divididos em castas, de Alfa a Ípsolon. Todos eram condicionados a não querer interagir com outras castas, e todos eram condicionados a servir ao bem-estar social.

A felicidade era uma lei. O condicionamento feito durante o início da vida, de forma hipnótica, dizia que todas as pessoas devem ser felizes. AS coisas ruins seriam eliminadas, a morte seria algo costumeiro no dia-a-dia de todos, a solidão seria ultrajante. Tudo organizado de forma que ficar sozinho fosse praticamente impossível, a diversão era sempre conjunta, e dividir a vida com outrem era um pilar importante para a felicidade. Tudo em nome da manutenção da sociedade perfeitamente estável.

As pessoas eram jovens até a morte. Através de algumas terapias (como transfusão de sangue jovem) aparencia física não decaía de modo que fosse atingida a senescência. Desde a incubação, todos são imunizados contra todas as doenças, e quando são admitidas no hospital, a morte é certa, e quando chega, os nutrientes e compostos daquele organismo morto são reaproveitados.

Já que as pessoas não nasciam, famílias não existem. A interação sexual é incentivada, mas o amor, o relacionamento prolongado era algo desencorajável. Sob o lema "Cada um pertence a todos", a promiscuidade era estimulada. Escolha, se divirta e siga em frente.

Em diversos locais, de forma isolada, existiam as chamadas "reservas históricas". Lá a vida ocorre como nas antigas épocas (semelhante aos tempos em que o livro foi escrito), as pessoas não dispõem das novidades da civilização. Nas reservas, as pessoas nasciam (o que era visto como uma verdadeira obscenidade para os novos tempos), lidam com o envelhecimento, veneram deuses, vivem em núcleos familiares, sem dispor da tecnologia dos novos tempos. Esses fatos eram motivos para que fossem chamados de "Selvagens".

Claro que, como humanos, erros ainda podem acontecer. Um homem chamado Bernard Marx, pertencente à mais alta casta (Alfa-mais), tinha, apesar do desenvovlvimento, estruturação física de alguém de uma casta menor, o que era razão para ser malvisto por seus semelhantes. Por um problema no seu processo de condicionamento hipnótico, ele não pensava como a nova ordem: ele tinha consciência de sua diferença e não sempre queria viver como todos os outros, apesar de trabalhar tal como os outros integrantes da nova sociedade.

Marx, ao  viajar e visitar uma das reservas históricas, conhece um dos selvagens: John, filho de uma mulher que outrora pertencera à civilização mas se perdeu em uma visita à reserva e estava grávida de outro homem "civilizado". Em John, Marx vê uma oportunidade para estabelecer-se socialmente, ao mostrar o novo mundo ao selvagem e trazer a atenção de todos para mostrar alguém que nasceu (!), tendo um pai (!!!) e uma mãe (!!!!!). O resto faz parte do enredo, não vou contar mais.

Opinião

Huxley aborda o desenvolvimento tecnológico, crecente no período pós-Primeira Guerra, de uma forma muito interessante. Pelo que li, o desenvolvimento chegará ao ponto de não ser mais uma ferramenta para o ser humano, mas será a única base em que a sociedade se sustentará: voce deverá trabalhar para manter a ordem, do contrário será desprezado. Assim, é instaurada uma tecnocracia totalitária.

O autor também usa os nomes de personagens históricos para representar algumas ideias. O mais notório é o próprio Bernard Marx, cujo sobrenome vem do filósofo alemão Karl H. Marx, que muito escreveu sobre a alienação das massas para assegurar a estabilidade social.

Também vejo, em algumas passagens do livro, o esforço que é feito em nome da felicidade coletiva. Em vários momentos, é confessado que escolhe-se a felicidade em detrimento ao progresso científico de acordo com a metodologia empregada (contestação de teorias, revisão de dados, etc.). Novamente a individualidade é posta de lado em prol da ordem social. Ninguém está lá para nada se não servir a sociedade.

A parte boa de ler livros com semelhante temática é que mostram um pouco o preciso que precisa-se pagar se quisermos viver em uma sociedade realmente feliz. A famosa frase "A ingnorância, às vezes é uma benção" mostra-se convenivente e muito correta. O objetivo é chegar à felicidade plena. Mais que isso é desperdício e pode ser danoso para ser feliz. Para garantir a felicidade, é preciso que o conhecimento seja cerceado e os que quiserem buscar novos conhecimentos... é bom mandar para longe das massas. A civilização não pode ter perturbações.

Veredicto

Leiam esse livro. É um olhar fantasioso de nosso destino se queremos que a tecnologia invada nossas vidas. Francamente, creio que ela já invadiu.