quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Detalhes



Era uma vez, alguém que era triste nos detalhes. Não era visto pra baixo ou triste, muito pelo contrário. Quem via, via rindo, via falando besteira. Chorar? Só se for de rir, rolando no chão. Quando falava sério, era por 30 segundos, porque ia contar uma piada em cima do que acabara de dizer.

Era uma pessoa ativa. Queria fazer tudo, queria ter ideias, e as tinha. Pensava bastante, parecia uma máquina, as pessoas gostavam, suas ideias eram boas. Entretanto, às vezes se sentia mal. Ouvia The Smiths na volta pra casa, deixando repetir as músicas mais melancólicas. Dormia demais. Desanimava também. Era muita coisa ao mesmo tempo. Ora enrolava, ora se enrolava. Números para lidar, alguns mudavam de lugar. Imperceptível, erro pequeno, mas todo erro gera um problema tremendo. Ainda insistia, tentava dar seu jeito. Queria deixar algo bom, que o fizesse querer bater no peito. 

Esforço que minava a energia, força que se esvaía. Eis que chega o esgotamento e cessa a máquina de pensamento. Antes havia imaginação abrindo suas asas, agora não quer sair do sofá da própria casa. Aos poucos espantava a pessoa calma, com um semblante de Buda; agora, à primeira contradição, brada “seu filho da puta”. Cada dia cansava mais. Colegas, trabalho, os pais. Nada que uma cervejinha não cura. Tequila, cachaça, vodka pura. Era ainda uma pessoa bem vista, com respeito e admiração. Mas todos apenas rodeavam, era evidente a solidão. Letargia dominante, o sono crescia; coração gelado, a paixão não mais se via.

Era uma vez uma pessoa triste nos detalhes. Eram detalhes demais.

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